FTT - Futebol de Todos os Tempos

ENTREVISTAS COM EX JOGADORES, TECNICOS, DIRETORES E PESSOAS LIGADAS AO FUTEBOL QUE CONTRIBUIRAM DE ALGUMA FORMA PARA QUE PUDESSEMOS CONHECERMOS UM POUCO MAIS DA HISTORIA DO FUTEBOL BRASILEIRO E MUNDIAL.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Revista do Dia - ESPORTE ILUSTRADO 1945


Esporte Ilustrado nº 379, de 12.Julho.1945
Autêntico empate de campeões entre o CR Flamengo e o Internacional - assim era a chamada da materia sobre o grande jogo entre os campeões carioca e gaucho. O Flamengo vinha de um tricampeonato no Rio de Janeiro vncendo em 42-43-44. O Inter se tornava hexa campeão do Rio Grande do Sul vencendo em 40-41-42-43-44-45.

Revista do dia - PLACAR 1978

Placar 78 - A pagina central traz um poster com o que sería uma seleção dois times de Campinas. A Ponte Preta com um timaço acabara de ser vice campeã paulista em 1977 , perdendo uma  final emocionante contra o Corinthians numa disputa em tres partidas. Já o Guarani se tornara o grande campeão brasileiro de 1978 vencendo o palmeiras na finalissima. 

A seleção ficou escalada assim: Carlos, Oscar, Mauro, Polozzi, Zé Carlos e Odirlei, em pé Lúcio, Renato, Careca, Zenon e Tuta.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O Craque disse e eu anotei - ZÉ CARLOS

Zé Carlos era um dos jogadores que eu mais aguardava para fazer uma entrevista. Jogador clássico , leal, humilde e recordista de jogos com a camisa do Cruzeiro. Fez parte tambem do time campeão brasileiro do Guarani em 1978. Porem esta entrevista vai em forma de homenagem ao meu pai que vindo da Alemanha em meados dos anos 50 se apaixonou pelo Cruzeiro o time das mesmas cores do seu Schalke-04 na Alemanha.
Ele passou a acompanhar os jogos do Cruzeiro e pegou o surgimento do Mineirão e junto dele aquele fabuloso time do Cruzeiro que tinha entre outros, Raul, Procopio, Piazza, Dirceu Lopes, Tostão, Natal, Evaldo, Hilton Oliveira e claro Zé Carlos. Na final da Taça Brasil em 1966 meu pai foi a inesquecivel partida contra o santos vencida por 6x2 e foi tambem na segunda partida em São Paulo no Pacaembu. Saiu de lá literalmente de alma lavada pois tomou muita chuva no meio da torcida cruzeirense. Pois bem o que tem isto a ver com nosso entrevistado? Perguntei uma vez quem era o melhor daquele time magico do Cruzeiro e ele me respondeu: Zé Carlos. Jogava para o time sem se preocupar coma torcida. Não dava pontapé e desramava com classe os adversarios.
Portanto eis o idolo de meu pai.


Zé Carlos e Bruno

FTT - Você chegou a jogar profissionalmente no Sport de Juiz de Fora?

ZÉ CARLOS - Eu joguei um ano no juvenil e depois fui para o profissional.Joguei de 62 a 65.


FTT - Juiz de Fora tinha tres times rivais. O Sport, o Tupinambás e o Tupy. Cada um com  seu estadio. Bons tempos não é Ze Carlos.

ZÉ CARLOS - Ahh era. Tinha o Torneio da Zona da Mata onde os times da região de Juiz de Fora participavam e era muito disputado. A rivalidade era grande.


FTT - Foi então que Felicio Brandi te comprou e você veio para o Cruzeiro.

Zé Carlos - Na verdade eu havia jogado em Belo Horizonte uma vez com o Flamengo. 


FTT - Você jogou no Flamengo?

ZÉ CARLOS - Joguei um mes lá. Fizemos um torneio em Belo Horizonte chamada Copa do Bispo e no time do Flamengo tinham ainda o Carlinhos e o Paulo Henrique. Depois participei de um campeonato de seleções regionais de Minas e eu vim com a da Zona da Mata. Felicio me viu jogando e me contratou.Isto tudo em 1965.


FTT - Você nem poderia imaginar que ali estava surgindo um dos maiores times da historia do futebol brasileiro.

ZÉ CARLOS - Ahh, não imaginava mesmo. Primeiro porque o Cruzeiro naquela época era visto como a terceira força de Minas , atrás de Atletico e América.Claro que tiveram grandes jogadores no passado mas o time deslanchou mesmo depois do Mineirão em 1965.


FTT - Nos primeiros anos você entrava sempre no decorrer da partida. O meio campo titular formava com Piazza, Dirceu Lopes e Tostão. Como foi que você passou a ser titular neste time repleto de feras?

ZÉ CARLOS - É, eu sempre entrava no meio dos jogos. Então em 1967 o Piazza tinha participado da seleção brasileira  e se machucou ficando um bom tempo sem jogar. Eu passei a jogar no lugar dele e quando ele voltou eu não sai mais do time. Foi então que o Orlando Fantoni e depois o Gerson dos Santos formaram o quadrado com Piazza, eu, Dirceu Lopes e Tostão passou a jogar mais adiantado no lugar do Evaldo. Porem Evaldo entrava em todos os jogos tambem. Nosso grupo era muito forte e só podiam jogar 11.


Zé Carlos um dos mais clássicos e tecnicos volantes do futebol brasileiro.


FTT - E como era seu posicionamento com Piazza. Quem ficava e quem saia mais.
ZÉ CARLOS - Piazza ficava e eu saia um pouco mais. Naquela época não existia o segundo volante mas era mais ou menos assim que nós jogavamos. Eu e Piazza cobrindo a zaga e dois pontas abertos com Dirceu Lopes e Tostão entrando.Eu as vezes chegava tambem. Naquela epoca os times jogavam com quatro atacantes , as vezes até cinco. As defesas quase todas jogavam com quatro jogadores pois os laterais não subiam tanto pois tinham os pontas.


FTT - O Cruzeiro desde que o Mineirão foi inaugurado em 65 foi perder a primeira partida para o Atletico em jogos oficiais somente em novembro de 68. Foi uma hegemonia mesmo?

ZÉ CARLOS - Sem duvida. Veja que nós ganhamos o pentacampeonato de 65 a 69, perdemos em 70 para o Atletico e em 71 para o America e depois ganhamos novamente o tetra de 72 a 75.De onze ganhamos nove.


FTT - O time parecia imbativel e conquistou o penta campeonato mineiro. Porem a maior conquista deste time foi a Taça Brasil em 66. Nesta época alem do excepcional time do Santos quais eram os outros grandes times do Brasil? 

ZÉ CARLOS - Ahh tinham grandes equipes. O Palmeiras de Ademir da Guia e Dudu, o Botafogo de Gerson e Jairzinho, o Inter, o Grêmio e sem falar no Santos . Por isto que a nossa conquista foi uma grande surpresa pois voce tinha grandes times no Rio e em São Paulo e nós , um time de meninos com seus 19 anos fomos lá e ganhamos do melhor de todos.
Zé Carlos em ação contra o Botafogo no Maracanã. Grandes jogos no fim dos anos 60.
FTT - Voces tiveram grandes clássicos contra o Palmeiras de Ademir da Guia, Dudu e cia. Era um belo time tambem?

ZÉ CARLOS - Muito bom. Eram sempre grandes jogos. Alías não só os com o Palmeiras mas com o Santos e depois com o Inter.Times de toque de bola.

Cruzeiro em 1970 - Começo da transição do time dos anos 60 para 70. Em pé a partir da esq. Vanderlei que entrou no lugar de Neco, Fontana no lugar de Procopio, Pedro Paulo, Piazza, Mario Tito no lugar de Willian e Raul. Agachados: Natal, Zé Carlos, Tostão, Dirceu Lopes e Rodrigues que entrou no lugar de Hilton Oliveira.


FTT - Você pegou a transição desta geração de Tostão, Evaldo, Natal, Hilton Oliveira para uma nova com Nelinho, Palhinha, Roberto Batata e Joãozinho. Foi muito tranquila esta transição.

ZÉ CARLOS - Na verdade isto tudo se deve ao trabalho feito pela dupla Felicio Brandi (pres.do Cruzeiro) e Furletti (diretor de futebol). Contrataram bem e fizeram um bom trabalho com a base.Quando o Tostão saiu em 72 já tinha o Palhinha que vinha entrando desde 68. Já tinham o Roberto Batata, o Eduardo, o Rodrigues, todos começando. Aí mudou a defesa  com a chegada do Nelinho. Ficou Nelinho, Morais, Darci e Vanderlei e pouco tempo depois chegou o Perfumo. Tinha ainda o Mario Tito que veio do Bangu. Enfim o time sofreu mudanças mas continuou mantendo o nivel e disputando titulos.


  Time campeão da Libertadores em 1976 - Feita a transição ficaram remanescentes do time que venceu a Taça Brasil em 66 apenas Raul, Piazza e Ze Carlos . Em pé da esq. Morais, Nelinho,Osires, Piazza, Vanderlei. Agachados: Eduardo, Ze Carlos, Palhinha, Jairzinho, Joãozinho e Raul.



FTT - Lembre um pouco o futebol de Roberto Batata.

ZÉ CARLOS - O Roberto era um ponta que entrava muito na diagonal. Um jogador rapido, esguio e com muita qualidade tecnica. Tivemos sorte pois primeiro veio o Natal, depois o Batata ,o Eduardo e depois o Jairzinho. todos grandes pontas direitas. O Eduardo passou a jogar pelo meio depois.



FTT - Na final do brasileiro de 1975 o Cruzeiro perdeu para o Inter por 1x0. Um jogo muito disputado onde o Manga pegou tudo.
Nos anos 70 Cruzeiro e Inter travaram grandes clássicos. Um foi inesquecivel:o 5x4 no Mineirão pela Libertadores.

ZÉ CARLOS - Foi um jogo sensacional. Aliás toda vez que jogavam Cruzeiro e Inter davam grandes jogos. Eram times tecnicos. Neste 5x4 por sinal, eu  fiz um gol contra.....rss. Foi um espetaculo de partida. Depois ganhamos em Porto Alegre por 2x0 tambem e nos classificamos eliminando o inter.


Final do Mundial de Clubes de 1976 no Mineirão. Cruzeiro 0 x 0 Bayern - Na foto Zé Carlos x Beckenbauer


FTT - Como é ser o jogador que mais vezes vestiu a camisa do Cruzeiro em todos os tempos?

ZÉ CARLOS - É motivo de muito orgulho. Pensar quanta gente boa já passou por aqui e a honra de vestir esta camisa por tantas vezes é marcante.


FTT – Hoje estamos fazendo esta entrevista na Toca da Raposa 1. Inaugurada em 1973. Foi uma revolução no futebol brasileiro mudando o conceito de concentração não foi?

ZÉ CARLOS - Sem duvida. O Felicio Brandi acreditou e investiu . Nós davamos nosso melhor para retribuir e a concentração foi um sucesso por onde passaram inumeros craques como o Ronaldo. A seleção brasileira ficou aqui na preparação para a copa de 82 e 86. Então eu acho que a Toca revolucionou o modelo de concentração pois se você olhar, mesmo hoje em dia muitos clubes não possuem uma concentração como esta.


Zé Carlos e Bruno na Toca da Raposa I. Aí nestes gramados o nosso "Zelão" se preparava para desfilar em campo toda sua categoria. Hoje supervisiona o intercambio com mercados internacionais que enviam seus jogadores e equipes para periodos de treinamentos na Toca.

AGORA ZÉ CARLOS É DO GUARANI


FTT - Como foi sua saida do Cruzeiro para o Guarani? Houve uma troca pelo Flamarion?

ZÉ CARLOS - Não. Eu inclusive cheguei a jogar junto com o Flamarion no Cruzeiro.Fomos campeões mineiros juntos em 77. Depois eu me machuquei e durante minha recuperação pedi ao presidente para me liberar para procurar outro clube. O Guarani através do Leonel seu presidente demonstrou interesse. Porem antes eu fui a São Paulo pois o Palhinha estava no Corinthians e eu fui conversar com o Oswaldo Brandão e Vicente Matheus. Ficou mais ou menos acertado só que eles queriam uma liberação escrita do Cruzeiro. Foi quando o Beto Zinni do Guarani ficou sabendo que eu havia ido a São Paulo e quando eu cheguei a Belo Horizonte ele estava no aerorporto me esperando. Ele me disse para primeiro ouvir o que o Leonel (pres. do Guarani) tinha para me propor. Pois bem no  outro dia fomos para Campinas e eu acertei com eles.


FTT - E você foi fazer parte de outro timaço;o Guarani.
ZÉ CARLOS - Foi. Um time muito certinho. Um ataque rapido com jogadores jovens.


FTT - O time tinha como ponto forte exatamente o meio campo com Ze Carlos , Renato e Zenon. Você se encaixou muito bem nesta equipe.

ZÉ CARLOS - É,  mas aí tinha o dedo  do Carlos Alberto Silva que soube armar o time. Os mais velhos eram eu e Neneca. O time era Neneca, Edson, Mauro, Gomes e Miranda , Eu, Renato e Zenon. Capitão, Careca e Bozó.

Guarani campeão brasileiro de 1978 - Zé Carlos, Edson, Gomes, Miranda, Mauro e Neneca. Agachados: Capitão, Renato, Careca, Zenon e Bozó.


FTT - E o Careca já era um um fora de serie?

ZÉ CARLOS - Era. Tinha apenas 18 anos mas já era diferenciado.E como ele jogava nos juniores com o Renato tudo ficou mais facil. Se entendiam muito bem nos profissionais.


FTT - Você ficou quanto tempo no Guarani?

ZÉ CARLOS - Fiquei dois anos. Depois sai e fui para o Botafogo.


FTT - Você jogou tambem no Villa Nova. Entre 82 e 83 com você em campo o Villa Nova jogou 5 partidas contra o Cruzeiro. Empatou 4 e perdeu uma. O Villa precisa se reerguer não acha?

ZÉ CARLOS - Até por coincidencia,  o Villa Nova está aqui na Toca fazendo sua pré temporada para o mineiro deste ano. O Wilson Gottardo agora é seu treinador e jogou um tempo com a gente. Acredito que o Villa tem condições de recuperar o tempo perdido pois tem muita tradição.Aliás eu encerrei a minha carreira no Villa.

FTT - Qual foi o melhor time que você jogou: o Cruzeiro dos anos 60, o Cruzeiro dos anos 70 ou o Guarani 78?

ZÉ CARLOS - Todos me deram muito prazer e alegria. O proprio Villa Nova. Veja que nós não perdiamos dentro do Alçapão do Bonfim (estadio do Villa Nova). Podia ir lá Atletico, Cruzeiro, America que a gente não perdia. O Villa tinha um grande time com Isaac, Geraldo Touro, Osmar, Pirulito.




Zé Carlos na seleção brasileira em 1975 . Jogo contra o Peru pela Copa America. Na foto aparece ainda Waldir Peres dando um belo voo.


FTT - Você jogou numa epoca de grandes craques no futebol brasileiro. Me aponte 6 ou 7 que mais te impressionaram.

ZÉ CARLOS - Eu teira uns 50 pra citar. Mas vamos lá: Piazza, Tostão, Dirceu Lopes, Cerezo, o proprio Marcelo , Rivelino, Ademir da Guia, Gerson. No Santos tinha o Clodoaldo, Mengalvio, o Pelé nem se fala. Toninho Guerreiro no São Paulo. O Flamengo tinha o Almir que quando eu joguei lá atuei com ele. Tinha o Paulo Henrique.Enfim tinha um grande numero de jogadores. Internacionais teve o Beckenbauer.

Momento belissimo do futebol. Não tem cor, não tem raça, não tem nacionalidade , nem clube. Dois craques do futebol, um branco e um negro mostrando o respeito e admiração mutua , trocando as camisas de seus clubes.
Beckenbauer e Zé Carlos após a final do Mundial de Clubes em 1976.


FTT - Você acha que o futebol era mais dificil antigamente ou hoje em dia?

ZÉ CARLOS - Olha muitos me perguntam se eu gostaria de ter jogado hoje em dia. Eu digo que não, pois talvez não fosse tão feliz como eu fui naquela época. Agora eu acho que antigamente era mais dificil. Porque? Porque se você olhar naquela epoca muitos times brasileiros tinham seis ou sete jogadores na seleção brasileira. O Brasil em 66 formou duas seleções e em 70 tambem. Quantos grandes jogadores ficaram ainda de fora e mereciam ter ido. Antigamente se primava pela qualidade no futebol. Hoje , apesar do condicionamento fisico, do futebol ser muito mais corrido não privilegiam a parte tecnica. Formam um jogador hoje e não descobrem um talento como antigamente. Hoje formam um atleta. Atualmente ter surgido cada vez menos bons jogadores. O desaparecimento dos campos de varzea tambem infuiram muito. Hoje você ve que os meninos preferem um computador do que jogar bola. Por isto o não surgimento de novos craques. A bola e as chuteiras tambem eram muito mais pesadas.


FTT - Imaginando aquele time do Cruzeiro de 76 com você e Piazza no meio campo e um ataque extraordinario, acha que daria para jogar de igual para igual com um time atual como o Fluminense campeão brasileiro mesmo com um meio campo com 4 homens?

ZÉ CARLOS - Eu acho que o Cruzeiro venceria pela qualidade dos seus jogadores. O Fluminense tem bons jogadores mas se for fazer uma comparação não dá. Hoje tem mais força, mais combate e menos tecnica. Qualquer dia terão de aumentar o campo e o gol pois já não está cabendo. Na nossa epoca dava para tocar a bola e era o que sabiamos fazer.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Revista do dia - MANCHETE ESPORTIVA 1978


Na capa da Manchete Esportiva de Julho de 1978 os craques Nelinho do Cruzeiro e Dirceu do Vasco se abraçavam.

Encontros eternizados - LEONIDAS DA SILVA & GETULIO VARGAS

Leonidas da Silva é cumprimentado pelo então presidente do Brasil Getulio Vargas. O "Diamante Negro" era uma unanimidade no país e um dos maiores nomes entre todos os artistas nacionais.A foto é do inicio dos anos 40.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O Craque disse e eu anotei - GERALDÃO

Entrei em contato com o Geraldão na mesma semana que realizei a entrevista. Muito simples, aceitou de imediato. Quando estive na sua residência pra realizar a matéria, acabei conhecendo a sua família. São pessoas muito bacanas e o Geraldão passou a sua história de forma direta e objetiva, mostrando também o seu lado torcedor e de alguém que passou por muitas dificuldades pra chegar onde chegou. Confiram a matéria.


FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Você nasceu em Presidente Prudente.
GERALDÃO: Nasci em Álvares Machado, 10 km de distância, comecei a jogar bola por lá e fui me destacando. Vários senhores da minha cidade viram que eu estava jogando bem, passaram a tentar ajudar o meu pai e eu. Sou de família pobre,  estudava na cidade, trabalhava no sítio, era praticamente um bóia fria, dependia de muita coisa desta parte, fui orientado e levado aos clubes para fazer testes, antes de assinar contrato com o Marília de São Bento. Fiz teste no América de Rio Preto, ficando uma semana lá. Também fiz teste em Lins, ficando 21 dias. Só não fiquei nestes clubes porque estava no começo de carreira, era caipira, vinha do sítio, não tinha muita coisa e dependia de outras pessoas pra ajudar a minha família. Voltei para minha cidade e fui jogar na Prudentina, de Prudente, o Campeonato Amador e Regional, porque o time havia caído em 1967. No ano de 68 estava brigando pra voltar para a Divisão Principal. Ela caiu devido ao mal entendido da Federação, porque naquele ano era pra cair dois clubes e acabaram derrubando três, com a Prudentina caindo também. Ficamos brigando neste em 68. No começo de 69, a Prudentina percebeu que não iria conseguir voltar à Divisão Principal e acabou com o futebol, dispensando todos os jogadores que estavam lá. Joguei com o finado Lidu, que veio pra São Paulo, com o Polaco, pra jogar no Corinthians, depois houve aquela tragédia envolvendo o Eduardo. Depois apareceu pra mim uma oportunidade na Diamantina através de um ex-jogador deles, o Vicente. Ele soube que eu estava na Prudente fazendo muitos gols no Campeonato Amador, eles estavam formando um time pra disputar a Segunda Divisão e foram me buscar. Fiz teste durante três meses, mas não assinei o meu primeiro contrato, porque a Diamantina era um time pobre que estava começando o campeonato naquela época. Apareceu o São Bento de Marília, que era um time mais tarimbado, que havia disputado vários campeonatos, acabei indo pra lá e assinei o meu primeiro contrato em 1969. Foi  uma história engraçada, porque quando resolvi parar, 20 anos depois, foi em Garça, que é uma cidade vizinha de Marília. Tive algumas dificuldades no São Bento, que formou um bom time, estávamos em primeiro lugar no turno inicial e fazíamos uma boa campanha. Quando começou o segundo turno, o São Bento começou a sofrer pressões da Federação, de ex-jogadores do clube que cobravam as rendas dos jogos de Marília. A Federação pegava tudo, passamos a ficar sem comida na Concentração, não recebíamos ordenado e, com estas dificuldades, o time passou a quebrar, começando a cair, tirando o mando dos jogos de Marília. Cheguei a passar fome lá, uma fase que não gosto muito de relembrar, pois era na época que estava iniciando. Fui chamado de pinguço, sendo que naquela tempo eu nem sabia o que era cerveja, só tomava refrigerante. No time de Marília, só tinham dois que não bebiam, que era eu e um ex-jogador que mora aqui em São Paulo, que ficou desgostoso, não quis mais saber de bola, começou a trabalhar como Segurança, hoje é aposentado e de vez em quando nos encontramos. Taxaram nós como beberrões, saí de lá bem magoado, voltei pra minha cidade, sentido, pois eles deveriam averiguar o que realmente estava acontecendo e saber quem eram as pessoas. Apareceu o presidente do Epitaciana, que ia disputar a Segunda Divisão. Tinha um rapaz de lá que soube que havia voltado pra Machado e, como eles procuram um centroavante, foi me buscar. Perguntou se eu queria fazer um teste, aceitei, mas disse dependia do meu pai, porque éramos pobres, conversaram com ele, que acabou aceitando. Chegando lá, disseram que ia jogar no Segundo Quadro. Fiz três gols. Pediram pra eu ficar na reserva do time principal que iria jogar em seguida. Foi aí que a minha carreira começou. O jogo era difícil, entrei no segundo tempo e, graças à Deus, eu fui bem.



FTT: Você teve esta oportunidade na Epitaciana. Como foi a sua estréia?
GERALDÃO: Entrei, fiz um gol, fazendo o passe do outro e ganhamos o jogo por 3 a 1. Fui pra casa, disseram que iriam analisar e até terça-feira me dariam uma resposta. Mas na segunda, eles já foram atrás de mim, disseram que se interessaram  e queriam fazer um contrato. Como eu tinha passado fome em Marília, disse que aceitava somente se me arrumassem um emprego. Arrumaram-me um emprego em uma gráfica e era registrado. Na hora de ir para os treinamentos, eu era liberado e depois voltava pro serviço. Surgiram propostas da Ferroviária de Araraquara e do Paulista de Jundiaí, pois passei a jogar bem, tinham juízes que pareciam olheiros, porque perguntavam da minha situação. Até o América, que fiz teste em 68, se interessou também. O último que apareceu foi o Botafogo de Ribeirão Preto e acabei indo pra lá.

FTT: Foi justamente no Botafogo de Ribeirão Preto que realmente começou a sua carreira, sendo muitas vezes artilheiro, jogando ao lado do Doutor Sócrates. Como esta a sua passagem?
GERALDÃO: Cheguei no dia 16 de novembro de 1970. O primeiro ano (71) foi difícil, com os ordenados atrasados. Passamos a crescer depois de 72, apareceu o Maritaca e outros jogadores. Já 73, foi um ano muito bom pra nós. Infelizmente o Sócrates não estava jogando ainda. O Botafogo foi faze um amistoso em uma cidade vizinha e o Maritaca se machucou em uma jogada boba, levando uma pancada no joelho e ficou afastado durante seis meses. Foram buscar o Sócrates nas Categorias de Base. Como o time já estava em ascensão, ele entrou com facilidade.

FTT: Ele já era este talento?
GERALDÃO: Sim, ele já tinha uma inteligência fora do normal. Não era um jogador de buscar a bola lá atrás, mas inteligente do meio pra frente, pois podia deixar pra ele que fazia mesmo. Passamos a jogar juntos e nos entrosamos. Terminamos 1973 com o Botafogo sendo campeão do Paulistinha. Em 74 começamos com o mesmo time, fui artilheiro do Paulistinha e do Paulistão, com o Sócrates encostando. No Paulistinha fiz 15 e ele fez 10.



FTT: Você chegou em uma época muito difícil, tinha acabado de ter aquela decisão contra o Palmeiras em 1974, ficando 20 anos na fila sem ser campeão. A pressão era muito grande?
GERALDÃO: Naquela época não era fácil. Qualquer lugar que íamos jogar, se perdesse um jogo e, encontrar um torcedor pelo caminho, era duro. Até dentro de São Paulo, se empatasse uma partida, pra sair do vestiário depois, era complicado. Graças a Deus eu tenho a minha filosofia, podia jogar ruim e perder um monte de gols, mas corria, mostrava pra torcida que estava dando tudo de mim. Não era muito molestado, nunca fui molestado por torcedor para brigar. Teve jogo que tentei ajudar jogadores nossos que partiam pra cima dos adversários e nós tirávamos. Sempre saí tranquilo e nunca levei pancada. Eles viam o que eu fazia dentro do campo, perdia os meus gols, mas eu lutava, mostrava que queria vencer, consegui ter a torcida do meu lado pelo esforço dentro do campo. Com isso os gols foram aparecendo e o Corinthians foi crescendo.
FTT: Por sinal, nesta época do Botafogo, você chegou a jogar na Seleção Paulista.
GERALDÃO: Joguei duas vezes em 74, contra a França, no Pacaembu. Joguei convidado na Seleção do Rio. Foi um ano espetacular, deu tudo certo, o Botafogo e eu tivemos os nossos méritos. Foi excelente.

FTT: Quando você jogava com o Sócrates, ele já aplicava naquela época os toques de calcanhar?
GERALDÃO: Aplicava. Nesta parte ele sempre foi inteligente. Quando o Sócrates entrou no time, passamos a jogar os dois na frente. Um entendia o outro. Eu conhecia a jogada dele. Por isso que passamos a fazer vários gols e tivemos muito entrosamento. Quando ele despontou, foi aí que o Botafogo subiu, conseguimos fazer aquela boa campanha e o meu mérito de ir para o Corinthians.




FTT: Chega o Brasileirão de 1975 e você é contratado pelo Sport Club Corinthians Paulista pelo saudoso presidente Vicente Matheus. O que significou esta contratação pra você?
GERALDÃO: Esta contratação foi uma surpresa. Naquela época quem queria me contratar era o São Paulo. Mas eles tinham aquela filosofia de tentar investigar a vida do jogador. Nisso, o Matheus foi para o Botafogo, perguntou quanto era, que estava precisando de centroavante, deu o dinheiro e me trouxe. Eu sabia que estava pra vir ao São Paulo e de repente chega a notícia de ir para o Corinthians. Pra mim e pra minha esposa foi uma surpresa, levamos até um susto, mas foi uma surpresa agradável, eu sendo corintiano doente. Ficava ouvindo jogo do Corinthians pelo radio prendido no barbante, queria ser como o centroavante Flávio que fazia muitos gols, sendo eu centroavante, pensava, quem sabe, chegar à altura dele. Quando cheguei, foi uma surpresa, porque nem o treinador Dino Sani sabia que eu tinha sido contratado. Eles ainda estavam disputando o Campeonato Paulista, porque o Botafogo tinha saído e o Corinthians não, tentando se classificar pra outra fase. Não fui muito bem recebido por ele, mas como no futebol queremos vencer na vida, quis mostrar pra eles.



Geraldão fazendo o gol sobre o São paulo de Waldir Peres.

FTT: Falando em crescimento, isso aconteceu mesmo no Campeonato Brasileiro de 1976, sendo que houve um jogo contra o Internacional, em São Paulo, que você marcou um gol, aquela formidável invasão corintiana no Maracanã contra o Fluminense, além do vice decidido com o mesmo Inter lá no Beira-Rio. Fale sobre este Brasileirão.
GERALDÃO: Este Brasileirão foi um caminho como aconteceu no Botafogo. O Corinthians com os mesmos jogadores, passou a se entrosar. O Campeonato Paulista foi no começo do ano, não fomos bem. Mas dentro do Campeonato Brasileiro, começou a subir, porque estava mantendo os mesmos jogadores. O time subiu de produção, fizemos uma excelente campanha, houve aquela invasão no Rio. O jogo de Porto Alegre até hoje não consigo entender. O que o Corinthians jogou lá e não conseguiu ganhar. Nós matamos o Internacional. Fizeram dois gols de bola parada. O primeiro foi de falta, bateu na barreira, uma bobeira nossa, porque a bola subiu, ficou aquela indecisão, sai Tobias ou Moisés, um ficou esperando o outro, foi aí que o Dario subiu no meio de todo o mundo, cabeceou e fez o primeiro gol. No segundo, a bola bateu na barreira, no chão e o juiz deu o gol. Foi a única coisa que eles fizeram. Se você ver o tape daquele jogo, tivemos varias oportunidades e não conseguimos fazer os gols. São coisas que acontecem. Eles fizeram um excelente campeonato desde o começo, tinham um grande time e não mereciam perder na última partida. Mas foi um jogo que ficou na história. Depois começou 77, os mesmos jogadores, chegou o Palhinha pra reforçar mais, foi o ano que o Corinthians cresceu e chegamos a ser campeões.

Corinthians 1976 : Ze Maria, Tobias, Moisés, Zé Eduardo, Givanildo e Wladimir. Agachados estão: Vaguinho, Neca, Geraldão, Ruço e Romeu.
A famosa invasão corintiana ao Maracanã em 1976 no jogo contra o Fluminense. Cerca de 70 mil alvinegros.

 
FTT: 1977 começa com um novo Paulistão. Mais uma cobrança por parte da torcida e da imprensa, novas contratações com o consagrado Palhinha do Cruzeiro e do técnico Oswaldo Brandão. Vocês percebiam que 77 seria diferente ou não dava pra saber que seria o ano do Corinthians?
GERALDÃO: Quando começaram as contratações, chegando o Palhinha e o Sr. Oswaldo Brandão, o time passou a se desenvolver mais e sentíamos que tínhamos condições de chegar. Nas partidas finais, não podíamos perder pra ninguém. Íamos jogar quatro jogos, contra o Guarani, Botafogo, Portuguesa de Desportos e São Paulo. Perdemos o primeiro, no Pacaembu por 1 a 0. Houve maior confusão, o Matheus falou “o bicho” pra nós, xingou a gente, já jogou a bandeira pra cima e saiu nervoso do vestiário. Fizemos uma reunião, tivemos sorte porque tudo favoreceu a gente, porque os outros times perderam, sobrando uma oportunidade pra nós. Reunimos-nos, falamos que teríamos três partidas difíceis e que iríamos chegar lá. Começamos a treinar e levar à serio, fomos jogar em Ribeirão Preto contra o Botafogo e ganhamos aos 17 do segundo tempo, com um gol do Romeu. Tinha um jogo no Morumbi, contra a Portuguesa, que nem podíamos empatar, senão estaríamos fora. Eu fiz o gol aos 22 do segundo tempo, ganhando por 1 a 0. A última partida foi contra o São Paulo, joguei cinco vezes contra eles e fiz gol todas as vezes. Jogo difícil, mas conseguimos ganhar. Chegamos à final. Sabíamos que a Ponte era um time difícil, pois se fosse um campeonato de pontos corridos, teria sido campeã disparada. Jogamos com eles lá e aqui e perdemos os dois jogos neste campeonato. Só ganhamos nas partidas finais.


FTT: Nestes três jogos finais contra a Ponte Preta, o primeiro foi 1 a 0 com um gol do Palhinha, perdendo o segundo por 2 a 1 com o Vaguinho fazendo um gol, sendo que os da Ponte foram de Dicá e Rui Rei. E na final, aquele famoso 13 de outubro, com o gol do Basílio. As três partidas foram no Morumbi. E, curiosamente, você não fez nenhum gol nestes jogos, mas foi o artilheiro do Corinthians neste campeonato.
GERALDÃO: É mesmo. Só não fui artilheiro do campeonato porque, meio dele, tive problema com renovação de contrato e fiquei algumas partidas de fora. Por isso que não consegui ser artilheiro, você está fazendo gols, fica fora e perde o embalo. Foi o que aconteceu comigo. Quando voltei, os outros jogadores já estavam lá em cima. O artilheiro foi o Serginho, com o Toninho (Palmeiras) em segundo lugar. Mas fui o artilheiro do Corinthians, sendo que muitos jogos que ganhamos por 1 a 0, eu fiz o gol. O Corinthians sempre foi um time visado e todos os times querem mostrar futebol. Jogam contra o Palmeiras e São Paulo, é de um jeito. Jogar contra o Corinthians é diferente, todos querem ter o prazer de ganhar, porque dará nome pra eles.
FTT: Depois de 77, aquela festa formidável com o Corinthians campeão, você foi emprestado para o Juventus, uma passagem até que um pouco rápida.
GERALDÃO: 1978 foi a chegada do Sócrates no Corinthians. Houve uma desavença entre o presidente e eu, pois, naquela época, não achava que o ordenado que ganhava, eu merecia. Quando cheguei ao Corinthians, ganhava uma mixaria, até menos que os caras que ficavam no banco. Era difícil chegar à um acordo com o Vicente Matheus, que era muito turrão. Acabei não ficando dentro do Corinthians. O Palmeiras se interessou para eu fosse emprestado, mas o Matheus não quis. Apareceu também a Portuguesa de Desportos, mas ele disse que não me cederia pra time grande. Então eu disse pra ele que me emprestasse pra time pequeno. Apareceu o Juventus, que estava desesperado, em penúltimo lugar, sendo que naquela época caíam quatro times, veio conversar comigo e acabei aceitando um ordenado maior do que ganhava no Corinthians e fizemos uma boa campanha em 78.

O timaço do Juventus - Cedenir, Bracalli, Arnaldo, Tião, Deodoro e Paulinho
Agachados: Ataliba, Luciano, Geraldão, Cesar e Wilsinho.


FTT: Depois da passagem pelo Juventus, um time que jogava por música, com Ataliba e muitos outros jogadores de destaque, retorna em 1979 para o Corinthians, sendo novamente Campeão Paulista e mais uma vez jogando com o grande companheiro de Botafogo de Ribeirão Preto, o Sócrates. Fale deste título.
GERALDÃO: Era um time bem melhor que o de 77, com outras contratações. Já tinha o Amaral e depois veio o Caçapava. Com a vinda do Sócrates, foi outra coisa, o Corinthians passou a jogar diferente, um futebol mais objetivo e com isso conseguiu chegar à final, sendo campeão. Um ano muito bom, o meu retorno também, fiz muitos gols, só não fazendo nas finais porque estava no banco. Me tornei campeão novamente e, como corintiano, fiquei gratificado.

FTT: Em 1981 mais uma passagem pelo Juventus. Neste mesmo ano, você teve uma passagem muito marcante pelo Sul do Brasil, mais precisamente no Rio Grande do Sul, sentindo na pele o que era jogar um Grenal, pois, afinal de contas, jogou naquele time do Grêmio que acabara de ser Campeão Brasileiro e em 82 foi para o Internacional. Como foram estas duas passagens?
GERALDÃO: Exatamente, eu estava jogando no Juventus. No Grêmio estávamos bem no Octogonal lá do Sul, o Baltazar não estava bem, o que acontece, pois todos nós temos as fases boas e ruins, não conseguindo fazer os gols e souberam que eu estava bem no Juventus, o Leão sabia da minha mobilidade, me indicou para os diretores, vieram pra São Paulo, conversaram  e fui pra Porto Alegre por empréstimo de três meses. Fiz uma excelente campanha, porque quando cheguei, o Grêmio estava mal, conseguimos chegar à última partida disputando com o Internacional pra ser campeão. Só não fomos campeões, massacramos o Inter, deram sorte, fizeram um gol no nosso campo, conseguimos empatar somente no final e eles foram campeões. Fiz seis gols em oito partida e o Grêmio começou a ganhar.



FTT: E logo em seguida você foi para o Inter.
GERALDÃO: Foi uma guerra terrível a minha renovação de contrato com o Grêmio, mudou a diretoria e não quiseram dar o braço a torcer. Tinha um repórter que fez uma campanha pra eu continuar no Grêmio, mas não teve jeito. Acabei indo para o Internacional, dando continuidade no meu trabalho, fazendo muitos gols, fui o artilheiro do campeonato e Campeão Gaúcho de 1982. Foi um ano muito bom. No Grenal, até hoje, eles comentam em Porto Alegre que sou o jogador que mais fez gols, porque todos que participei , eu fiz e saí vitorioso.

Geraldão atualmente e a recrodação dos seus bons tempos de Corinthians.


FTT: Tem um jogo no Beira-Rio que vocês ganharam por 3 a 1 do Grêmio, sendo que os gols foram todos seus.
GERALDÃO: Isso. E teve depois no Olímpico que acabei fazendo dois e fomos campeões.

FTT: Vai gostar assim de Grenal!
GERALDÃO: Eu, graças à Deus, por todos os times que passei, sempre fiz gols. Quando estava no Botafogo de , existia o Come-Fogo, também fazia e o Botafogo ganhava todos os jogos. Nesta parte de Grenal e em outros times, sempre tive sorte. Era um clássico com muita pressão. Fui muito feliz em Porto Alegre. Consegui ser Bicampeão em 1982/83 pelo Internacional. Só não ganhei em 84 (o Inter foi Tri) porque não continuei lá. Pedi pra ir embora.


Inter 1983 - Luiz Carlos Winck, Benitez, Mauro Pastor, Ademir,Mauro Galvão e André Luiz.
Agachados: Cleo, Dunga, Geraldão, Ruben Paz e Silvinho


FTT: Quais foram os outros clubes que você jogou depois desta sua passagem pelo Inter?
GERALDÃO: Passei pelo Colorado, do Paraná. Depois fui para o Mixto, de Cuiabá. Voltei para o Estado de São Paulo, pra jogar na Francana. Joguei no Corinthians, de Presidente Prudente. Fui pra Itararé. Depois passei por Valinhos. Em 1989 fui para o Garça, meu último time, onde encerrei a carreira.

FTT: Bom, Geraldão, estamos praticamente encerrando esta entrevista para o Blog Futebol De Todos Os Tempos, por sinal, a primeira deste ano. O que você tem a dizer do Corinthians para 2011? Você acha que dá pra ganhar esta Libertadores?
GERALDÃO: Eu acredito que sim. O Corinthians tem excelentes jogadores, deve contratar mais alguns, espero que consiga conquistar a Libertadores, pois é um título que ainda falta e todos corintianos estão esperando. Tenho certeza que os jogadores que estão aí se empenharão ao máximo e conseguirão esta façanha.

FTT: Na sua época, a pressão era pra ser Campeão Paulista e Brasileiro. Hoje é pra ganhar a Libertadores.
GERALDÃO: Exatamente, hoje é diferente. Ser Campeão Paulista é uma façanha que hoje não tem muita graça, então todo o mundo  está esperando a Libertadores e acredito que eles vão batalhar pra conseguir.


REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz.
FOTOS: Estela Mendes Ribeiro.








sábado, 8 de janeiro de 2011

Revista do dia - EL GRÁFICO


Revista argentina do El Gráfico da Copa do mundo de 1978. Na capa correm Bertoni e Edinho. O jogo terminou em 0x0.

BONO & ENZO FRANCESCOLI


Enzo Francescoli um eterno idolo do River Plate entrega uma camisa do clube a Bono Vox vocalista do U2. A foto é de um show em 2005 em Buenos Aires.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O Craque disse e eu anotei - GILBERTO "SORRISO"


Gilberto Sorriso faz parte da lista dos jogadores oferecida por outro entrevistado, o Wilsinho. Desde quando conversei pela primeira vez por telefone, se mostrou uma pessoa bem simpática, aceitando de imediato realizar a matéria. Gilberto pertence à uma associação que trabalha com garotos carentes da periferia de São Paulo, desenvolvido dentro da comunidade (favelas) onde tem um campinho de futebol, com dois ex-atletas trabalhando, passando os fundamentos do futebol e da própria vida. O site é www.craquesdesempre.com.br, onde pode ser vista uma palestra que Gilberto Sorriso foi convidado pra fazer.
 Confiram a matéria que realizei para o Blog Futebol de Todos Os Tempos (FTT).

FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS: Fale sobre o seu início no futebol. Parece que você começou no próprio São Paulo Futebol Clube nas Categorias de Base.
GILBERTO SORRISO: Isso, antes nós jogávamos no Cruzeirinho na Fagundes Filho em São Judas Tadeu. Nós tínhamos um time bom, jogava o João Carlos Serrão, Édson, jogadores de nível naquele time. Dali fizemos um teste no Corinthians, na época do Sr. Rato, não fomos aprovados e logo em seguida tivemos oportunidade de sermos levados pelo Sr. Orlando, o qual praticamente passei a ser adotado pelo mesmo e tivemos a felicidade de fazermos um teste no São Paulo, fomos aprovados em 1968 e de lá minha carreira profissional decolou.

FTT: Você disse que começou no São Paulo em 1968 e mesmo antes de 70 conquistou alguns títulos Juniores pela Seleção Paulista e Campeonato Brasileiro.
GILBERTO: Exato. Eu tive uma felicidade muito grande no São Paulo. A minha idade que era de Infantil e eu já fui jogando como Juvenil. Eu tive ascensão muito rápida e fui campeão em 69 e depois fomos Campeões Brasileiros com a Seleção Paulista em 70, campeonato este disputado em Santo André na inauguração do estádio e na minha volta desta Seleção fui chamado para os Profissionais e não saí mais.

São Paulo 1970 - Gilberto, Sérgio, Roberto Dias, Édson, Jurandir e Forlan; agachados  Paulo Nani, Terto, Toninho, Gérson e Paraná


FTT: Em 1970 você fez parte de um grande time do São Paulo, jogando ao lado de craques como Gérson, Pedro Rocha, Édson Cegonha e o próprio Forlan. Fale sobre este Bicampeonato do São Paulo de 70/71.
GILBERTO: Fui profissionalizado e tive a felicidade de pegar um belo time, com Sergio, Forlan, Jurandir, Dias e jogava o Tenente na lateral-esquerda. Aí eu fui promovido e tinha no meio de campo titular o Édson, Gérson, Toninho Guerreiro e o Paraná. Foi um time muito bom que conseguiu tirar o São Paulo de 12 anos na fila sem conseguir títulos. Fomos Bicampeões em 70 e 71. Em 1972 fomos Vice-Campeões invictos contra o Palmeiras, estávamos páreo a páreo, tivemos um jogo que eles ganharam e ficaram um ponto na frente na final, teve um empate e o Palmeiras foi campeão.


José Poy, Mauro Madureira,  Mirandinha, Silva e Gilberto Sorriso em treino do São Paulo


FTT: Depois de 1972 com o quase Tricampeonato do São Paulo, vocês ainda foram Vice-Campeões Brasileiros neste ano.
GILBERTO: Acho que foi em 71 contra o Atlético Mineiro. Este jogou eu tenho uma lembrança, o gol deles foi de falta do Oldair e na barreira estava o Gérson. A bola foi bem na direção dele, ela abaixou e nós sofremos o gol. Todos ficaram questionando dele ter abaixado. Ele respondeu que “cabeça eu tenho uma só e campeonato posso ganhar outros”! rsrs...  O Oldair chutava muito forte e o Gérson não quis por a cabeça, sendo que aí perdemos o campeonato frente ao Atlético.

São Paulo na final do brasileiro de 1971 . Jogo mencionado pelo Gilberto logo acima. A partir da esquerda: goleiro Sérgio Valentim, Toninho Guerreiro, Forlan, Teodoro, Samuel, Paulo Nani, Gilberto Sorriso, Arlindo, Terto e Paraná. 

FTT: Sempre olhamos o São Paulo hoje, um time que foi três vezes campeão da Libertadores. Mas a primeira final foi o Vice em 1974. O que aconteceu pra vocês não conseguirem levar este torneio?
GILBERTO: Essa disputa foi feita frente ao Independiente. Nós ganhamos aqui, perdemos na Argentina e fomos disputar no Chile a terceira partida. Neste jogo nós fomos felizes de uma maneira acentuada, perdemos gols incríveis em virtude disso acabamos sendo derrotados. Tem uma coincidência, vinha jogando o Nelsinho Baptista na lateral, atualmente o famoso técnico que está no Japão muito bem. O futebol revela muitas surpresas, tiraram o Nelson e colocaram o Forlan, que logo de cara fez um pênalti, tivemos também um a nosso favor, inclusive que o Serrão bateu e o goleiro defendeu. Nós até comentávamos que deveria ter batido o Pedro Rocha ou alguém com um pouco mais de experiência, mas o Zé se sentiu bem no momento, mas foi infeliz na cobrança e nós acabamos sendo derrotados amargando o Vice-Campeonato.

FTT: Mas não foi uma decepção muito grande na época, porque a Libertadores não era um torneio tão cobiçado como hoje em dia.
GILBERTO: Exatamente, você tocou num assunto legal. Hoje eu vejo todo mundo falando sobre Libertadores. Na minha época quando classificávamos para disputá-la, o pessoal falava que tínhamos que jogar este “torneiozinho safado”! E pessoas influentes no clube, que não davam a mínima importância para esta campeonato que era a Libertadores. Eu acho que no nosso tempo o Campeonato Brasileiro e o Paulista tinham muito mais valor para os clubes.


Gilberto Sorriso e Mauricio Sabará.A foto é guardada com carinho: Gilberto e Pelé.

FTT: Em 1974, além do Vice da Libertadores, era o ano da Copa do Mundo da Alemanha e parece que você era um dos inscritos. O que aconteceu pra você não ter ido para este Mundial?
GILBERTO: Em 74 eu estava em uma fase fantástica, jogando todos os jogos, inclusive bati um recorde  que não sei se foi ultrapassado, disputando 73 partidas seguidas sem ser substituído, sem expulsão e atuando os 90 minutos. Nesta época o Pelé me indicou, falando que o lateral que deveria ir pra Seleção Brasileira era o Gilberto Sorriso. Eu acabei sendo convocado, foi uma festa muito grande no clube, mas na hora da apresentação houve uma mudança radical e a minha participação na Seleção se resumiu em ficar na lista dos 40. Foi uma decepção muito grande, porque eu vinha bem e merecia aquela oportunidade. Você sempre espera que seja incluído na lista dos 22 ou 25. Fiquei desgostoso a partir daquele momento em termos de Seleção, não tendo mais oportunidades. Na Seleção Paulista eu sempre era convocado e jogava como titular

FTT: Depois em 1974 você ganhou mais um título pelo São Paulo, o Campeonato Paulista de 75, surgindo uma outra geração, com Serginho Chulapa e o tão famoso Muricy Ramalho. Comente sobre este título de 1975.
GILBERTO: Em 75 nosso treinador era o José Poy, assumindo o São Paulo com uma determinação de fazer uma renovação. Realmente foi feita, remanescentes eram poucos jogadores como eu, Pedro Rocha, Terto e Zé Carlos. Trouxe um time renovado com Paranhos, Arlindo e Chicão. Esta equipe realmente ficou trinta e poucas partidas sem perder e conseguiu ali o campeonato. Foi muito bom e hoje o nosso Muricy fazendo parte deste grande meio de técnicos top do futebol brasileiro.



FTT: Você continuou atuando mais dois anos pelo São Paulo e jogando bem como lateral-esquerdo. Houve algum lateral que tenha te inspirado no seu estilo de jogo ou que você admirava mais?
GILBERTO: Não, a minha fixação como lateral-esquerdo foi por acaso. Eu jogava de lateral-direito na várzea. No dia que fui fazer o teste com o José Poy, ele perguntou quem era lateral-direito. Eu levantei a mão. Como tinha lateral-direito ele falou “negão, joga na esquerda”. Eu fiz dois treinos, na terça e na quinta. No sábado, ele me convocou para um jogo amistoso no Jardim Rochedale, em Osasco. Foi o primeiro jogo, ainda joguei no Juvenil e figurei na reserva dos Juniores. Tinha no início uma dificuldade de usar a perna esquerda, mas com uma série de treinamentos passei a usá-la naturalmente. Não tive uma influência de algum lateral. Minha fixação como lateral-esquerdo foi casual, pois precisavam e deu certo, dei sorte, Deus me iluminou na posição e fiquei.

GILBERTO SAI DO TRICOLOR E AGORA É DO SANTOS

FTT: Em 1977, pouco antes do Brasileirão que o São Paulo conquistou, você foi contratado pelo Santos Futebol Clube.
GILBERTO: Antes houve certo comentário que poderia ser transferido para o Palmeiras, mas continuei no São Paulo, sem confusão nenhuma. Só que quando veio o Sr. Minelli, ele me colocou no lado direito e disputei o campeonato de 77. No final desta competição, o presidente me chamou, falando que tinha uma proposta do Santos, perguntando se eu queria ir, dizendo que só concretizaria a negociação se eu quisesse. Era o Nelsinho Baptista e eu, conversamos e achamos melhor irmos para o Santos, pois o Nelson era o lateral-direito e eu
era o lateral-esquerdo. Acho que quando o Minelli me colocou na direita era porque não tinha interesse em contar comigo. Nós fomos pro Santos e nos demos muito bem lá.

FTT: Em 77 você foi contratado pelo Santos e participou de outro grande time de futebol que foi aquele famoso Meninos da Vila, Campeão Paulista de 1978. Fale sobre esta fase que tanto você gosta.
GILBERTO: Realmente. Foi concretizada a minha transferência juntamente com o Nelson pro Santos. Só que quando nós chegamos, nos assustamos um pouco, porque tinha jogadores demais naquele época. A equipe não se encontrava na Capital, estava viajando e ficamos na dúvida se íamos ficar ou se era melhor voltarmos. Decidimos ficar porque achamos que no São Paulo a nossa fase já deu. Houve uma mudança no Santos e aí eles passaram usar os garotos da Equipe de Base junto com a experiência de alguns jogadores como eu, Nelsinho, Clodoaldo e Aílton Lira. Nós fizemos parte dos primeiros Meninos da Vila, com Juary, Nilton Batata, Pita, Célio e Neto. Foi fantástica a montagem daquele time e os resultados alcançados. Fizemos uma amizade muito grande naquele time que perdura até hoje e estamos sempre juntos. Acho que é por isso que eu falo que tenho hoje um carinho até maior pelo Santos do que pro São Paulo, porque a minha convivência é maior com os jogadores do Santos, onde minha carreira foi muito boa. Tive algumas saídas devido à alguns problemas, disputando uma Taça de Prata pelo Goiás. Voltei e fui pro Noroeste, tendo nesta volta um problema no Tendão de Aquiles, retornando depois ao Santos, sendo novamente campeão em 84 com um time diferente, que tinha Rodolfo Rodríguez, Márcio Rossini, Toninho Carlos, eu , Toninho Oliveira, Dema, Serginho Chulapa, Lino, Paulo Isidoro, Zé Sérgio e Humberto. Era um timaço. Haviam jogadores que tinham saído do São Paulo e foram para o Santos. A maioria dos atletas que saem do São Paulo e vão para o Santos dão certo e arrasam. Atualmente tem o Arouca que está arrebentando, sendo que no São Paulo não tinha este mesmo glamour que alcançou no Santos.
Foi uma felicidade muito grande, tivemos a oportunidade de sermos campeões em 84. Ganhamos de 1 a 0 do Corinthians com um gol do Serginho Chulapa. Naturalmente que naquela época o Corinthians vinha melhor, sabíamos que ia ser difícil, fomos pra cima e quando o Serginho fez aquele gol no início do segundo tempo começaram a gritar que “agora é o Plano B”, que era chutar a bola pra fora! Risos...

Santos 1978 : Gilberto Sorriso, Vitor, Joãozinho, Neto, Clodoaldo e Nelsinho . 
Agachados Nilton Batata, Ailton Lira, Juary, Pita e João Paulo


FTT: Pouco antes do título de 1984, houve também outra fase importante que foi o Vice-Campeonato Brasileiro e 83 contra o Flamengo num Maracanã simplesmente lotado. Foi 3 a 0 pro Flamengo, mas teve uma briguinha no final do jogo. O que aconteceu?
GILBERTO: Realmente a montagem deste time também foi fantástica, disputando a final contra o Flamengo e foi um jogo decepcionante pra nós, pois a equipe chegou ao Maracanã muito desfalcada, porque no primeiro jogo em casa nos tiraram jogadores importantes como o Dema e mais um ou dois atletas. No Maracanã nós jogaríamos com jogadores que não vinham fazendo parte da equipe titular e realmente sentimos bastante, tanto que o Flamengo abriu o placar logo com 40 segundos de jogo. Ali foi um ducha de água fria, o Zico deu a saída,lançou a bola na ponta-esquerda e foi completar. Não deu nem tempo de nos assentarmos e sentirmos o calor da torcida. Eu acho que foi o maior público do Campeonato Brasileiro, com 155 mil pessoas, coisa que não vai acontecer mais, uma vez que a capacidade dos estádios foi diminuindo e não tem mais como chegar a este número. Realmente houve um tumulto na final, mas nada relacionado ao Flamengo, pois foi conta dos repórteres que estavam invadindo o campo pra comemorar naturalmente a vitória, sendo que, alguns dos nossos jogadores, mais exaltados com a situação, foram pra cima e a briga se generalizou. Mas nada contra os jogadores do Flamengo foram os legítimos campeões. Foi um fato lamentável que não deveria ter acontecido, mas aconteceu, nós estávamos com a cabeça quente, vendo a felicidade dos repórteres que deveriam se manter na deles e não participar da euforia dos jogadores do Flamengo.


FTT: Você começou no São Paulo e também teve uma grande passagem pelo Santos. Ao longo destes, praticamente, 15 anos de futebol, teve algum ponta-direita que te dava mais trabalho?
GILBERTO: Haviam alguns ponteiros que eu tinha certa dificuldade pra marcá-los. O Zequinha, ponta-direita que jogava no Botafogo e no Grêmio, era bastante difícil de ser marcado. O Edu Bala, do Palmeiras, que tinha uma velocidade fantástica. No Sul tinham o Valdomiro e o Tarciso, que era muito forte.  O Rogério, que era ponta-direita do Flamengo. Também tinha o Manoel Maria, do Santos. Houve também o Renato Gaúcho, do Grêmio. Haviam vários jogadores nesta função que davam muito trabalho, que realmente complicavam a vida dos laterais. E tinha o Garrincha que felizmente peguei no final de carreira, senão eu ia ser mais um João na mão dele! Risos...

 Gilberto comemora com Nelsinho Baptista o titulo de campeão paulista em 1978.

FTT: Eu acredito que o time que mais te deu trabalho foi o do Palmeiras na época da Academia.
GILBERTO: Sim, na minha época mais de São Paulo o Palmeiras era um grande time. No meu tempo, eu gosto de citar, tinham grandes jogadores. O Palmeiras tinha o Dudu, Ademir da Guia, César Maluco que hoje tem um programa comigo na televisão. No São Paulo jogavam Gérson, Édson e Pedro Rocha. O Santos tinha Clodoaldo e Pelé. A Portuguesa com um timão tinha Lorico. No Corinthians tinha Tião, Rivellino e Suingue. Eram timaços com um futebol maravilhoso. Tivemos grandes confrontos contra o Palmeiras, mas também tivemos com os outros times.

 Atlético x Santos em 1983 - Gilberto está de costas com a camisa 3 ao lado de Reinaldo com a 9.


FTT: Encerrada a carreira você trabalhou na Equipe de Base do São Paulo. Deu pra descobrir alguns grandes talentos neste período?
GILBERTO: Olha, eu tive a felicidade de fazer parte das Equipes Inferiores da Comissão Técnica do São Paulo Futebol Clube. Eu esperava ter uma oportunidade na Equipe Principal, mas as vezes temos que analisar e ver que, se não deu, procurar outra coisa. Todas as vezes que eu estava pra ter uma oportunidade em cima ou de fazer parte da Comissão Técnica, acontecia.

alguma coisa e o São Paulo me mandava novamente pra Equipe de Base. Lá eu tive a felicidade de trabalhar com grandes jogadores, como o Kléber Gladiador, Gabriel (filho do Wladimir), Fabiano que é genro do Luxemburgo, o Sídney que jogava de volante e o Fábio Simplício. Foram vários que conseguimos fazer a formação.

FTT: Bom, Gilberto, estamos praticamente encerrando a nossa entrevista para o Blog Futebol De Todos Os Tempos. O que você tem a dizer sobre o futebol atual e sobre os laterais que tem funções até bem diferentes dos da sua época?
GILBERTO: Bem, tudo evoluiu daquela época pra cá. A evolução do futebol não ficou pra trás e muitas situações passaram a ser criados pelos técnicos. A diferença do futebol do meu tempo para o de hoje é muito grande, no meu entender era mais cadenciado, sendo que atualmente passou a prevalecer mais o condicionamento físico dos jogadores. O que vejo mais hoje é a pouca identificação que um jogador mantém com o seu clube, sendo que no nosso tempo os jogadores faziam mais parte da história do clube e ficavam de 5 a 10 anos. Um jogador jogando em um clube grande não queria ser transferido. Os do Interior batalhavam pra chegar em um clube grande e fazer história. O que vejo hoje é o interesse financeiro, com jogadores jogando um ano no clube e fazendo dele um trampolim para uma transferência pro Exterior. Hoje o futebol é um comércio e os jogadores são vistos como mercadoria. Mas eu acho que este é o futebol atualmente, fazendo parcerias e pagar estes salários mirabolantes, sendo que o time que não fizer isso está morto, pois tem que arrecadar dinheiro dentro do Marketing pra poder pagar estes salários.
Sobre os laterais, se você for analisar, são jogadores com outras funções, jogam como alas, com mais habilidade pra jogar a frente, alem da linha do campo. Você vê que muitos dos laterais de hoje são oriundos da meia-esquerda e são adaptados na lateral, porque o futebol atual não tem um ponta fixo, portanto não há a necessidade de um especialista pra fazer a marcação, pois qualquer um que tenha a noção de realizar a cobertura pode fazer esta função com facilidade. Estamos terminando o ano de 2010 e o melhor lateral eleito foi o Roberto Carlos, jogador com uma idade avançada, mas jogando ainda um bom futebol, que não vai mais muito à frente, chega, dá certo e faz muito uso do seu potente chute, tem uma qualidade fantástica e conseguiu ser o melhor, que juntamente com o Kléber são os dois melhores laterais do futebol brasileiro.



REPORTAGEM: Maurício Sabará Markiewicz
FOTOS: Estela Mendes Ribeiro